A Florzinha

“A Florzinha” Carlos Leite Ribeiro
 
Juro que não sabia...
O que no Brasil lhe chamam de “Florzinha” (outros nomes sabia)...
Tudo começou quando uma gentil Autora do CEN, me mandou uma fotografia, tirada no seu jardim, em que uma florzinha ficou no seu regaço.
Como acontece sempre que me mandam alguma coisa, agradeci à simpática e gentil Autora, mais ou menos nestes termos: “
- (...) uma linda, expressiva e inteligente carinha, que tem em baixo uma “florzinha”, que se nota bem cuidada e melhor regada (...).
Mas que sarilho que esta “florzinha” me deu...
Disse-me a Autora em questão que “Não aceitava brincadeiras destas, pois era senhora muito respeitada e, além disso casada”.
Caí das nuvens e perguntei a um amigo brasileiro, o que era a tal “florzinha”. Durante toda a minha vida, sempre ouvi chamar-lhe muitas coisas (algumas até bastante feias), mas “florzinha” é que nunca tinha ouvido chamar-lhe!
Por cá, florzinha é uma flor mimosa, bem tratada, bem regada... (ai que já estou com receio de estar a pôr “o pé na argola"), que nós admiramos, tantos as que se encontram em jardins, nos campos, em estufas próprias para florzinhas, ou mesmo as que temos em nossa casa.
Outras compramos (as chamadas de corte) para delicadamente as colocarmos em jarras, onde as afagamos com certo carinho, as regamos bem, as admiramos, etc..
Mas nunca estas flores, a que me estou a referir…
Quando vimos uma senhora com uma flor ao peito, temos por hábito, pedir-lhe a sua florzinha.
Imaginem só, que o termo “florzinha”, fosse como é com o sentido brasileiro!
Para tirar o assunto a limpo, desloquei-me a uma casa que vende flores, aqui na Marinha Grande, onde a proprietária é minha conhecida há anos. Pedi-lhe que me desse uma florzinha, e qual o meu espanto, que a senhora olhou para mim, sorriu matreiramente, e respondeu-me:
- “Com essa cara de malandro, tu queres é outra “florzinha”, mas daqui não levas nada, "rapaz!”.
Pelos vistos, não é só no Brasil...
Isto leva-me a pensar no que ouvi a uma viúva, num funeral que acompanhei no Verão passado, em que ela lamentava que o seu defunto jamais mais veria as belas “florzinhas” que rodeavam seu corpo morto.
- Seria que a viúva, não queria referir àquelas “florzinhas”, mas sim, a alguma “florzinha” em especial?
Eu não sei o que ia naquela cabeça, nem tenho nada a ver com o assunto.
A Língua Portuguesa é tão traiçoeira, há isso é!
Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal (2006)