Recordações

“RECORDAÇÕES...” – texto de Carlos Leite Ribeiro



Foi há tantos anos...
Que hoje ao recordar, não sei se foi verdade se é obra do meu alterado sub-inconciente (pela idade) a que poderei chamar inconsciente. Se a memória não me falha, o caso remonta já a alguns decénios.
Tanto eu como o Rodrigo, eramos professores de Secundário. Um dia encontramo-nos, aliás, como habitualmente, num café do centro da cidade. Tínhamos exatamente 40 minutos para reiniciarmos as aulas da parte da tarde.
Normalmente, passávamos o tempo falando de coisas banais ou num “interminável” jogo de poker que dificilmente o podíamos concluir no próprio dia. Mas esse dia foi, podemos dizer, fora do comum.
O Rodrigo, uma boa pessoa que podíamos considerar como “algo fechado para com os assuntos particulares e íntimos que lhe fossem transmitidos. Logo que entramos disse-lhe que precisava de lhe falar de um assunto “privado” – completamente fora de qualquer divulgação.
Já conhecíamos o Rodrigo a alguns anos e, numa primeira apreciação, sentíamos muito honrados pela confiança que ele me considerar seu amigo, para poder apresentar-lhe um tão “grave” problema.
Quase o arrastei para uma mesa de um canto distante da entrada e distante das mesas do nosso habitual convívio. Enquanto esperávamos pelo café, abrir o jogo ao dizer-lhe:
- Colega e amigo, estou com um enorme problema: Amo demais uma aluna substancialmente mais nova do que eu!
De certeza que ele esperava tudo, menos uma confissão destas!
- Colega, nós muitas vezes temos situações dessas com alunas. E se não mantivermos a “cabeça fresca”, pode torna-se um caso muito sério. Veja bem no que se está a meter… um desejo sexual, passa rapidamente; um amor como Deus nos ensinou (e não tivesse determinado a idade), é algo muito profundo nas suas vertentes, incluindo, como é evidente, a parte sexual que não será só a renovação da vida como o garante de uma longa e estimulante vida conjugal. Além do respeito mútuo, claro. Mas, meu amigo, quem sou eu para lhe poder dar uma orientação?
Não tive argumentos para replicar-lhe. Calmamente e calados, regressámos à escola.
Os anos passaram. Um dia, nunca localidade que na altura tivemos que nos deslocar, uma voz familiar, embora de momento não pudesse identificar, nos saudou:
- Olá professor! Já não se lembra de mim?
Olhei e reconheci o colega Rodrigo, acompanhado por sua esposa. Depois dos cumprimentos da praxe, fomos para uma esplanada, confidenciei-lhe que aquela linda “moça” era a ex-aluna que um dia teve a felicidade de me apaixonar, melhor, apaixonamo-nos forma mútua. Hoje a “moça” (minha mulher) está quase a terminar seu curso superior de Pedagogia. Carinhosamente, ela ainda me trata por “o Paizinho isto, o Paizinho aquilo). Mas sempre com muito carinho, compreensão e amor mútuo.
Minha mulher, além de ter apreciável cultura, é uma excelente dona de casa, e na cozinha é um espanto com os acepipes que tão bem sabe confecionar.
Dou Graças a Deus por ter encontrado a minha “cara-metade” que me complementa em toda a aceção da palavra.
O homem e a mulher podem-se completar, se tiverem condições para tal. O sexo é maravilhoso mas não é tudo na vida; e se não for um desvario de curta duração.
E é bem certo o que o povo, na sua infinita sabedoria diz:
- “O Amor, quando verdadeiro e sem interesses materiais, não escolhe idade nem situações”.
Olhando os céus, atrevo-me a pedir a Deus que mande cá para a terra a sua bênção para os homens e mulheres de boa vontade, honestos, sinceros e leais.
Amén.

Carlos Leite Ribeiro
Nota: Este trabalho é pura ficção. Qualquer personagem, local ou situação é pura coincidência.